UM FIM PARA O RIO DE MERDA
Pois então num vórtice de espaço-tempo a esquadra portuguesa acaba dando um salto espaço-temporal de 1502 para 2008 bem na entrada da barra da Baía de Guanabara em maré 0.0, ou seja, quando a pobre baía despeja para o oceano tudo de ruim que o crescimento desordenado sem infra-estrutura joga em sua bacia hidrográfica e desta para suas águas.
Tem a questão do custo da operação das estações, visto que as mesmas exigem o uso constante de produtos químicos em seu processo de “limpeza”. Pois bem, disso eu não posso nem chutar, mas penso no UM BILHÃO DE DÓLARES do PDBG e seus resultados franzinos, a CPI sobre o PDBG e seus resultados que não deram em nada, e concluo que as perguntas básicas para de fato resolvermos esse problema ambiental são:
Se você não sabe para onde quer ir, nenhum vento é bom para a navegação já diziam os experts em vela.
Eu tenho um claro rumo, e ele está associado com a visão e o olfato menos contaminado nas águas da baía de Guanabara, sistema lagunar da baixada de Jacarepaguá e baía de Sepetiba. Não há falta de dinheiro, com ou sem crise mundial, sempre o que houve e haverá foi o corporativismo, a interferência de interesses econômicos poderosos associados com administradores públicos negligentes, certos que a coisa pública é algo a ser apropriada visando objetivos políticos particulares e que se dane a tal Natureza e a sociedade. Se existe outra solução técnica em curto prazo e com valores mais modestos que me apresentem, pois como contribuinte que acaba pagando tudo e não recebendo quase sempre nada, ficaria interessado em conhecer. Sinceramente acho que o mal como já escrevi em outros artigos é a péssima qualidade de ensino existente, mas isso só com vinte anos de investimentos constantes em educação. Neste contexto encaminhei um documento à secretária Estadual de Ambiente do Estado do Rio de Janeiro, com quem estive pessoalmente bem como fiz uma representação ao Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro expondo a situação de degradação mais do que conhecida bem como um possível caminho no sentido de reverter à degradação observada. No sentido de não ser chamado de simplicista, diante de tamanho problema ambiental, gostaria de relembrar um “estudo de caso” sobre as mortandades da Lagoa Rodrigo de Freitas do qual participei diretamente nos últimos vinte anos. Por décadas, dezenas de trabalhos foram efetuados sob os mais variados enfoques, visando identificar as causas dos desequilíbrios ambientais que por fim geravam as temidas mortandades que vitimavam centenas de toneladas de peixes por ano. A partir de 1989 quando iniciei meus trabalhos para a recuperação dos manguezais na mesma lagoa, percebi facilmente que o sistema de águas pluviais era regularmente utilizado como galerias de esgoto. E não era pouca caca não! Era muita, de inúmeros pontos e dada a constatação, iniciei uma série de denúncias pela mídia e para os órgãos “competentes” visando resolver a questão. Foi praticamente, uma década de brigas com a CEDAE que negava qualquer lançamento de esgoto, bem como aquele eterno e típico jogo de empurra entre prefeitura e estado, visto que filho feio não tem e nunca terá pai. Foi quando em 1999 alertei o então secretário de meio ambiente do estado que a coisa ia pegar e feio, visto que a situação se agravava e quem deveria estar agindo continuava negando o óbvio. Lembro como se fosse hoje o documento por mim produzido, indicando os pontos de despejo na Lagoa, sendo encaminhado ao então secretário bem como a um diretor da estatal. Nada foi feito e a cagada então aconteceu com as mortandades de 400 toneladas de peixes recolhidas durante os verões de 2000-2001-2002. Diante da apatia governamental denunciei já em 2000 toda aquela situação não apenas à polícia federal como espalhei o que acontecia a todos os meios de comunicação. Toda essa história gerou o abraço à Lagoa e depois uma ação conjunta envolvendo moradores, o Carlos Minc, então deputado estadual e o Ministério Público exigindo da CEDAE um diagnóstico da situação para posteriores ações de saneamento. Os resultados da diagnose, nada mais foram do que os esperados: 1-A CEDAE de 1985 a 2000 havia investido na rede de esgoto da região da Lagoa menos de 1% da arrecadação conseguida na mesma região, isto é, a política da estatal era de usar até acabar, gerando o completo sucateamento das elevatórias e demais equipamentos; 2-51% da rede de esgoto (os canos) tinham mais de 60 anos. Moral da história o sistema era um queijo suíço e toda a bosta produzida na região ia parar é nas águas da Lagoa que por sua vez consumia o oxigênio e conseqüentemente de forma isolada ou associada com outros fatores coadjuvantes acabava exterminando os peixes e demais organismos. Finalmente a estatal assinou um termo de ajuste de conduta com o MP Estadual e como sempre desrespeitando prazos estabelecidos, foi recuperando lentamente o sistema anteriormente em colapso. Muito bem, desde então parou de morrer peixe e o ecossistema da Lagoa vai se recuperando. Que incrível coincidência! Teria sido um milagre? Uma ação divina? Nada disso, apenas a identificação do problema e a resolução do mesmo. Nada mais, nada menos. Neste exemplo da Lagoa eu gostaria que todos que têm paciência de ler esse artigo entendam que o estado de degradação que vemos ao nosso redor nada tem haver com grandes dificuldades técnicas, falta de recursos ou uma sina religiosa, mas quase que exclusivamente uma mistura criminosa de interesses econômicos e políticos/corporativistas, onde a falta de pressão da sociedade acaba dando o tempero final para esse prato indigesto. É possível sim em VINTE QUATRO MESES, reverter o cenário apocalíptico que eu pessoalmente acompanho nas lagoas da baixada de Jacarepaguá, como nas baías de Guanabara e Sepetiba, bastando para isso vontade política e pressão da sociedade. Destaco que a solução das UTRs não pode ser encarada como uma ação única e milagrosa para todo o passivo ambiental existente, mas complementar a tudo que deveria estar sendo feito, como aquilo que ainda falta fazer pelo PDBG e pelas políticas de habitação e transporte. Esta solução tem como maior efeito à não ampliação do passivo ambiental exportado pelas bacias hidrográficas convertidas em valões para as baías, lagoas e praias. Confesso que ando cansado de ver aquelas mesmas matérias de sempre sobre as línguas negras da Copacabana a cada chuva que caí, pois nascido e criado por aquelas bandas sempre vi desde pequeno aquelas galerias de águas pluviais transformadas em galerias de esgoto. Se alguém quiser resolver aquela situação, num dos cartões postais mais importantes de nossa cidade, não tem outro jeito senão interceptar toda as galerias por meio de outra galeria paralela a praia e lançar suas águas no emissário de Ipanema. Vai custar caro? Provavelmente sim. Mas quanto é que custa para uma cidade que vende como principal produto o turismo aquela imundície a cada chuva? Não tem como escapar. Vamos ter de pagar caro pela nossa omissão diante de tanta incompetência administrativa, mas que pelo menos paguemos por algo que venhamos de fato a receber e não apenas por esperanças para daqui há uma, duas ou três décadas termos algo que não iremos usufruir. A recuperação é factível basta querer. |
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Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br - . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . aquecimento global |