ecologia

indicadores ambientais



Hoje em dia muito se fala em espécies indicadoras, sejam em estudos de impacto ambiental e em outros mais amplos que pretendem entender como está o ambiente de forma mais simplificada. Apesar de parecer um termo claro e simples, existem algumas confusões a respeito que merecem ser esclarecidas.

Para começar, a definição geral de espécie indicadora é um organismo cujas características (presença / ausência, densidade populacional, dispersão, sucesso reprodutivo etc) são usadas como um índice de atributos muito difíceis, inconvenientes ou caros de se medir para outras espécies ou condições ambientais de interesse. Entretanto, existem algumas variações desta definição de acordo com o objetivo específico do que se quer avaliar. Os usos costumam variar entre indicar amplitudes dos vários tipos de influências antrópicas, dar pistas de mudanças populacionais em outras espécies, localizar áreas de elevada biodiversidade ou servir como “proteção” para os requerimentos de espécies simpátricas.

As definições específicas seriam:

1) Espécies indicadoras da saúde do ambiente - usadas para acessar efeitos de poluentes ou processos do ecossistema e condições ambientais físicas em organismos. Pode ser uma única espécie ou uma guilda.

Normalmente são invertebrados como, por exemplo, os filtradores, que acumulam poluentes em determinados tecidos.

2) Espécies indicadoras de populações - indicam padrões de outras espécies, como presas, que são submetidas a distúrbios humanos ou variações ambientais. Usadas também para indicar se um determinado habitat é apropriado para outros membros da mesma guilda.

Por exemplo, variações na mortalidade de jovens aves marinhas são indicadas para avaliar a variação dependente de temperatura na distribuição de peixes porque não conseguem nadar fundo o suficiente para encontrar peixes em águas muito frias.

3) Espécies indicadoras de biodiversidade - a riqueza dentro de um taxa pode ser usada para estimar a riqueza (biodiversidade) de outros taxa mais difíceis de se medir, e por conseqüência, de uma região. Por exemplo, a diversidade de um tipo de besouro pode prever a de aves e borboletas em escalas bem grandes.
4) Espécies “guarda-chuva” - usada para especificar o tamanho e tipo de habitat a ser protegido, a fim de acolher outras espécies. Espécies migratórias são particularmente efetivas.
5) Espécies bandeira - carismática para o público, usada como propaganda para proteger determinada área, que protegerá outras espécies menos conhecidas e/ou carismáticas e seus habitats. Exemplos clássicos são o urso panda e o mico leão dourado.

Portanto, dependendo do objetivo da avaliação ambiental e sua conservação, diferentes tipos de indicadores devem ser utilizados.

Abaixo seguem tabelas comparativas com os atributos para que cada tipo de espécie indicadora seja eficiente.

1) Atributos de medida

Tipo de indicadora
Representa outras espécies
Só ou guilda
Biologia bem conhecida
Fácil observação ou amostragem
Sítio de reprodução acessível
Indicador da saúde
Não necessariamente
Ambos
Sim
Sim
provavelmente
Indicador da população
Sim
Sim
Sim
possivelmente
Indicador da biodiversidade
Sim
Guilda
Sim
Sim
Não
Espécie guarda-chuva
Sim
Sim
Sim
Não
Espécie bandeira
usualmente
Não necessariamente
Não
Não

2) Características da história de vida

Tipo de indicadora
Tamanho do corpo
Tempo de geração
Taxa metabólica
Indicador da saúde
pequeno
curto
alta
Indicador da população
irrelevante
curto
irrelevante
Indicador da biodiversidade
irrelevante
irrelevante
irrelevante
Espécie guarda-chuva
grande
longo
irrelevante
Espécie bandeira
grande
longo
irrelevante

3) Características ecológicas

Tipo de indicadora
Tamanho da área de distribuição
Residente ou migratória
Nível trófico particular
Espécie chave
Indicador da saúde
médio
residente
Sim
Não necessariamente
Indicador da população
irrelevante
residente
possivelmente
possivelmente
Indicador da biodiversidade
irrelevante
Qualquer um
Não
irrelevante
Espécie guarda-chuva
grande
migratória
Não
possivelmente
Espécie bandeira
irrelevante
Qualquer um
Não
Não necessariamente

4) Atributos da raridade

Tipo de indicadora
Grande tamanho populacional
Ampla distribuição geográfica
Especialista do habitat
Indicador da saúde
provavelmente
Sim
provavelmente
Indicador da população
provavelmente
Sim
Não necessariamente
Indicador da biodiversidade
irrelevante
Sim
Sim
Espécie guarda-chuva
possivelmente
provavelmente
Sim
Espécie bandeira
Não
Não e sim
Não necessariamente

5) Sensibilidade às mudanças ambientais

Tipo de indicadora
Sensível aos distúrbios humanos
Baixa variação na resposta
Longo tempo de persistência
Indicador da saúde
Sim
Sim
irrelevante
Indicador da população
Sim
Sim
irrelevante
Indicador da biodiversidade
irrelevante
irrelevante
irrelevante
Espécie guarda-chuva
Não necessariamente
irrelevante
Sim
Espécie bandeira
Sim
irrelevante
necessariamente

Leitura sugerida:
Caro, T> M. & O’Doherty, G. O. 1999. On the use of surrogate species in conservation biology. Conservation Biology 13: 805-814.

Branca M. O. Medina - branca@biologo.com.br
Bióloga licenciada e bacharel em ecologia pela UFRJ e mestre em ecologia, conservação e manejo da vida silvestre pela UFMG.


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