bocadomangue Mario Moscatelli

O Lado Negro do Oásis Planetário

"O Lado Negro à tudo encobre.... em grande perigo você está...."
Ioda

A cada momento que eu leio os jornais essa frase de Ioda (Guerra nas Estrelas) me martela a cabeça. É a guerra do Iraque, é a guerra do Rio de Janeiro, é a estudante de quatorze anos morta nas escadarias do metrô, filhos matando pais e vice-versa em conseqüência do maldito vício das drogas que contamina todos os espaços de nossa sociedade, são as passeatas pedindo paz no Rio e no mundo, nós moradores sitiados daquela que foi maravilhosa, as armas cuspindo fogo, morte para tudo que é lado, crianças mortas e amontoadas como se fossem lixo no Iraque, armamentos milionários sendo usados, usurpando vidas para a alegria da indústria bélica, famílias destruídas, rios apodrecendo pela incopetência gerencial de nossos administradores públicos, enfim o Lado Negro da Força agindo de forma cada vez mais clara e contundente na realidade planetária, do lado e dentro de nossas casas.

O que fazer diante da ascensão tão clara do Mal, do espírito reptiliano existente dentro de cada um de nós? Confesso que hoje eu não sei bem o que fazer diante de tamanha capacidade de fazer as pessoas sofrerem, a não ser continuar recuperando áreas degradadas, plantando manguezais e tirando tanto das águas como do ar os poluentes que nossa sociedade suicida teima em lançar em nosso aquário planetário.

O desastre ambiental do rio Pombas é o reflexo desse mesmo Mal. É o desleixo, o relaxamento total com a certeza da impunidade. Não há dúvidas de que os atuais donos são culpados pelo gigantesco passivo ambiental e pelo seu fatal desdobramento. Se o empresário não sabia que junto com o ativo vinha o passivo ambiental, me desculpe mas esse cidadão precisa mudar de profissão, pois qualquer um que compra qualquer coisa de terceiro, exige a finha limpa ou as pendências existentes relacionadas com o bem em transação.

Isso é o capítulo um de qualquer transação comercial, se não sabia então estava muito mal assessorado. Em contrapartida, quem deveria fiscalizar a bomba-relógio também dormiu feio no ponto, aliás, uma característica típica desses últimos acidentes, falha humana feia!. Por onde andava a fiscalização ambiental lá de Minas Gerais, onde estão os relatórios das últimas vistorias? E vamos ao que interessa, quem paga a CAGADA que foi feita? Sob uma primeira análise o pagamento deveria recair tanto sobre os donos do passivo como quem deveria ter fiscalizado. Só que eu tenho aquela nítida sensação que quem vai segurar esse abacaxi, mais uma vez será a pobre natureza e o tal do contribuinte.


Pensaram que acabou? Tem mais lá na baía de Sepetiba, onde a empresa falida Ingá, deixou de presente para aquela baía, milhões de metros cúbicos de seus rejeitos depositados graciosamente dentro uma piscina isolada por um dique que em 1996 estourou em virtude das fortes chuvas. De lá pra cá a não ser pelas denúncias do OLHOVERDE (Projeto de Monitoramento Aéreo das Baías de Guanabara, Sepetiba e Ilha Grande) nada mais se falou e se fez sobre o assunto. Em virtude do acidente no rio Pombas o assunto Ingá renasceu das trevas e felizmente o governo do Estado do Rio de Janeiro, vai elevar em mais um metro o dique. A princípio essa medida mais do que emergencial é fundamental, só que ela é PALEATIVA e deve ser considerada como TEMPORÁRIA. O meu medo misturado com quase uma certeza fatalista é que como em inúmeros outros casos o temporário fique como DEFINITIVO. Deve ficar claro para todos os administradores públicos e para a sociedade que aquela bomba deve ser retirada daquele lugar e enquanto estiver lá, vamos depender que a roleta russa de São Pedro não escolha a ilha da Madeira como a próxima área à receber a tromba d'água da vez. Só alerto que o tempo está se esgotando...

Enquanto isso a laguna de Marapendi, que era a "menos pior" das lagunas da baixada de Jacarepaguá, há quinze dias em quase 90% de seu espelho d'água está tomada de Microscistys aeruginosa (alga hepatotóxica) em densidades tão altas que praticamente torna a superfície da água tão densa que parece que jogaram milhares de galões de tinta dentro da laguna.

Pensando bem, talvez a melhor estratégia diante de tamanha onda de horror que varre nossa realidade é que cada um de nós faça um pacto consigo mesmo. Um pacto de não agressão, de maior concentração em nossas atividades produtivas, que auxiliassem de alguma forma a melhorar a situação na qual vivemos, tanto dentro de nossas casas, nosso trabalho e com nossos amigos e principalmente inimigos. Com esses últimos, se não der para conviver, afastar-se, dar um tempo visando não alimentar essa GUERRA na qual nos encontramos.

Dar o melhor de si tentando destilar e isolar o que de pior todos temos dentro de nós, conhecendo-o e administrando-o de tal forma que ele não nos domine e incremente mais ainda esse processo de terror e intranquilidade que todos nós criamos e do qual somos as maiores vítimas.

MARIO MOSCATELLI - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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