bocadomangue Mário Moscatelli

Se desejas a paz, prepara-te para a guerra

Venho acompanhando pela mídia duas interessantes situações que irão gerar violentos e antagônicos impactos ambientais para a região metropolitana do Rio de Janeiro.

A primeira situação é a realização dos jogos Pan-americanos em 2007, bem como a possibilidade das Olimpíadas serem realizadas também em nossa cidade. Em virtude desses importantes eventos, o primeiro certo e o segundo em processo de disputa, vivemos um momento único, singular para a recuperação de fato do sistema lagunar da baixada de Jacarepaguá bem como dos demais passivos ambientais de nossa cidade.

É completamente inconcebível que qualquer competição, de um simples jogo de peteca aos considerados esportes olímpicos venham a acontecer no que hoje é um dos maiores depósitos de lixo e esgoto a céu aberto de nossa cidade. Já basta a vergonha que passamos há alguns anos atrás quando tentamos sediar as Olimpíadas, apresentando a ilha do Fundão como a futura vila olímpica, cercada por lixo e esgoto por todos os lados. É aquela antiga mania do brasileiro e principalmente do carioca de pensar que os gringos são trouxas e nós é que somos os espertalhões. Enfim apesar de todo o empenho da população, muito samba e manifestação, o desejo de sediar a Olimpíada naufragou em nosso gigantesco passivo ambiental, que de passagem desde então, não parou de crescer.

De prático o que é preciso agora é parar de falar e começar a colocar a mão no lixo, no assoreamento, no esgoto, na desordem da ocupação do uso do solo, concertando o que foi degradado, impedindo que os processos que geram a degradação continuem agindo e prevendo formas de gerenciamento que assegurem que após os jogos do Pan, a baderna e a degradação não retornem com força total. Não é pouca coisa e o tempo que resta aos administradores públicos é pouco diante da reforma ambiental pela qual o sistema lagunar e sua respectiva bacia hidrográfica terão de passar, somando-se a necessidade nem sempre simples de acomodar interesses político-partidários e econômicos de diferentes correntes e esferas de decisão administrativa (união, estado e município).

De qualquer forma, particularmente nos últimos onze anos, diante desse holocausto ambiental diário que presencio não só na baixada de Jacarepaguá como na baía de Guanabara e em nossas praias, tenho certeza que vivemos o momento do resgate de nossa promissória ambiental com esses ecossistemas.

Sinceramente, se a gente não der um jeito nessa bagunça agora, pode desistir, mudar de endereço, pois o destino ambiental de nossa cidade será de uma lixeira enfeitada.



Bom, terminada a euforia, vamos para o dark side do artigo.

Galera (principalmente biólogos, engenheiros agrônomos, engenheiros florestais, advogados, ambientalistas e cidadãos de plantão), as "auturidades" estaduais visando resolver seus problemas de caixa, resolveram garfar oficialmente o dinheiro do FECAM, proveniente dos royalties do petróleo. Dizem as "auturidades" à choldra (como bem diz o Sr. Gaspari) que quando foi criada a alíquota de 20% sobre os royalties a situação em nosso estado era outra e hoje não mais se justifica esse volume de recursos para os tais assuntos de ordem ambiental.

Realmente as "auturidades" ambientais estaduais estão certas em parte de sua análise. A situação ambiental, pelo menos onde eu posso acompanhar entre as baías de Guanabara e Ilha Grande, só piorou!

O PDBG continua uma vergonha internacional, onde sobram desculpas e atrasos e falta competência, seriedade, compromisso além dos tubos coletores que em tese deveriam já existir levando o esgoto para as suntuosas estações de esgoto, construídas com dinheiro emprestado. Até onde a obra já foi inaugurada pelas "auturidades", continua o espetáculo de impunidade, onde falta vergonha na cara e sobra esgoto jorrando em direção à marina da Glória. Pelo menos era isso que se via no dia quatro de junho de dois mil e três.

Quando você chega na lagoa Rodrigo de Freitas, o espetáculo se repete, onde progressivamente as "auturidades" estaduais transformam o sistema de canais abertos de águas pluviais (Lineu de Paula Machado, General Garzón, Jóquei e Visconde de Albuquerque) na expansão do seu sistema de esgoto. Baixam a comporta em frente ao Piraquê e para as "auturidades" o problema está resolvido. Não está não! Visto que a comporta como todo o resto anda podre e o "esgoto revoltado", maroto, passa pela comporta e fertiliza as águas da Lagoa. Aí morre peixe, tem bloom de algas, e sabe como é, a culpa é da tal ingrata natureza!

Praia de São Conrado, aquele esgotaréu bonito, descendo lá da Rocinha indo pegar praia, surfar, paquerar, tudo no maior clima super democrático!

Praia da Barra, num processo ecumênico de descarrego, onde o esgoto da favela Rio das Pedras se confraterniza com o da Cidade de Deus, que se encontra com o do Jardim Oceânico, tudo também muito bem comportado e organizado, com hora certa de descer e subir conforme manda a maré. Das lagoas da região, não vou comentar mais nada pois até eu não agüento mais falar do assunto.

Baía de Sepetiba funcionando de depósito de metal pesado, esgoto, sedimento, sendo saqueada por arrastões diários, tudo numa boa, num "clima super legal!!!".

Baía de Ilha Grande, repetindo no eixo da rodovia Rio-Santos o mesmo processo gerado pela Niterói-Manilha ou pela Avenida Brasil, favelização, esgoto e lixo. "Bonito" de se ver e acompanhar lá do alto o processo de desgoverno de criação diária de currais eleitorais, de perpetuação da miséria, do assistencialismo e do populismo.

Ninguém quer resolver NADA! Não interessa, pois é dos problemas é que jorram VOTOS e a perpetuação no poder. Mais isso é outra abordagem da tragédia.

Enquanto isso, nossas "auturidades" querem dar outro destino ao dinheiro que deveria, DE-VE-RIA estar sendo usado para funcionar como instrumento de transformação dessa ZONA na qual a zona costeira se transformou desde 1506. Chamo a atenção que mesmo o dinheiro que já foi depositado nesses primeiros seis meses, segundo informações de parlamentares, não vêm sendo utilizado nem para comprar "papel higiênico!". Alô galera, dinheiro CARIMBADO para ser utilizado para melhorar a qualidade de vida do morador do Rio das Pedras como do Jardim Oceânico!!!!!

Bom e daí? Daí, é que se a gente não se mexer, isto é, comparecer na manifestação do dia 09/08/2003 às 9:00 que sai da frente do condomínio Golden Green - praia da Barra, acessar os parlamentares que não aceitam esta alteração nas regras do jogo e comparecer no dia da votação da alteração da lei na Assembléia Legislativa, o pessoal que apóia as "auturidades" vai democraticamente aprovar as alterações e aí não adianta ficar com cara de CORNO. Sabe? Aquele que é o último à saber?

Pois então, se você que lê esse artigo não concorda com as alterações que nossa governadora quer implementar com a alíquota que vai para o FECAM, acorda e vai à luta, na passeata, no dia da votação na assembléia, contactando os parlamentares, enfim colocando a boca no mundo antes que seja tarde!

É sua chance de saborear o gosto da cidadania!

Quem quiser ter maiores informações a respeito das alterações do FECAM ligue para:

Deputado Estadual Otávio Leite - 25881200

Deputado Estadual Carlos Minc - 25881362

MARIO MOSCATELLI - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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