bocadomangue Mario Moscatelli

MEIO AMBIENTE LTDA.

Acompanho com profundo espanto, os constantes desentendimentos entre as diversas esferas administrativas dos órgãos ambientais que no meu entender deveriam priorizar o gerenciamento do que sobrou dos recursos naturais de nossa cidade bem como dividir harmoniosamente as tarefas de gerenciar, fiscalizar, recuperar e licenciar.

Inicialmente foi a novela dos canos da CEDAE que tinham de passar pelo Bosque da Barra, sob a responsabilidade da prefeitura e que apenas de fato se chegou a alguma conclusão, após meses de discussão, quando de forma contundente a mídia expôs a situação publicamente. Outra novela foi a da instalação da elevatória nas margens da laguna de Marapendi, onde quando alguma das instâncias do poder público resolve criar problemas para as demais, o que não falta são leis, regulamentos, portarias e despachos, tudo muito legal, só que enquanto isso, de seis a oito toneladas de esgoto por segundo continuam sendo descarregadas no sistema lagunar e desse para a praia da Barra.
Finalmente, entre tantos outros tristes capítulos dessa novela do usar até acabar, patrocinada pelo poder público e assistida na maioria das vezes passivamente pela sociedade, atualmente a dragagem estadual da laguna da Tijuca está embargada pela instância federal.

Aí você assiste na TV que o órgão federal diz estar esperando o tal documento solicitado ao órgão estadual que por sua vez afirma já ter enviado o que é negado pelo federal, e assim mais uma vez o tempo vai passando, as dragas ficam lá imóveis como gigantescos dinossauros de aço e a laguna da Tijuca continua naquele milkshake de lixo, esgoto, lama e falta de vontade política de resolver de fato os problemas que destroem o último sistema lagunar de nossa cidade. Enquanto isso, gigogas se multiplicam descontroladamente, invadem as praias, impedem a passagem de pescadores que arriscam a saúde naquele milkshake lagunar, nas condições mais insalubres de trabalho possíveis, as autoridades públicas fazem de conta que NADA acontece e assim mais uma vez o tempo passa e os jogos Pan Americanos alheios ao caos ambiental da região da baixada de Jacarepaguá vêm chegando.

Quando passo pelo arroio Fundo, aquele gigantesco valão de esgoto in natura, ornamentado com gigogas associadas com garrafas pet, móveis e animais mortos, que passa ao lado da futura Vila Pan Americana, fico me perguntando qual será a mágica tecnológica que nossas “auturidadis” irão fazer para transformar aquele monstro numa Cinderela até 2007?

Alerto que mesmo quando submetidas pela ação do Ministério Público por meio de termos de ajuste de conduta, empresas estatais, têm certeza que mesmo descumprindo prazos firmados nada lhes acontecerá, principalmente aos seus maus administradores, sem qualquer preocupação com a qualidade ambiental da cidade e a qualidade de vida dos contribuintes. Exemplo disso são as obras que se arrastam na lagoa Rodrigo de Freitas, onde não falta esgoto brotando das galerias de águas pluviais e onde a estatal a cada nova denúncia classifica esgoto como “água suja”.

Enfim como já disse anteriormente, tenho claro que a visão pública do gerenciamento ambiental é completamente míope, não conseguindo ir além de quatro ou nos mais “ousados” administradores por um período de oito anos. Está noção político-temporal associada intimamente com os períodos eleitorais são completamente incompatíveis com a lógica dos processos ambientais e daí os pífios resultados de diversos projetos e programas ambientais, fruto de interesses políticos momentâneos, descontínuos, paridos e abandonados. Exemplo disso é o quadro dramático das unidades de conservação, onde falta quase tudo.

Neste contexto, salvo meu completo engano diante da realidade que acompanho pessoalmente diariamente nas lagunas, baías e unidades de conservação, considero que a classe empresarial, principalmente a situada na baixada de Jacarepaguá deveria tomar à frente de forma articulada e promover a criação do Fundo Empresarial de Conservação Ambiental. Este fundo receberia recursos da iniciativa privada, sendo os mesmos gerenciados pela iniciativa privada, com projetos criados e executados pela iniciativa privada, onde tenho quase que certeza que vários dos sérios problemas ambientais existentes em nossa cidade poderiam ser atacados da forma correta com programas de curto, médio e longo prazo. Dessa forma o empresariado de forma clara poderia contribuir com a recuperação ambiental da cidade bem como estimular por parte do poder público maior competência e continuidade a execução de suas propostas.

Precisamos entender que a Natureza é nossa melhor parceira, nessa indústria de vida chamado planeta Terra e que a mesma quando mal tratada não se protege, apenas se vinga, atingindo diretamente não apenas nossa qualidade de vida mas também todas as atividades econômicas que dela dependem
Mudar essa situação apenas depende de nós.

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

comente aqui

.

imprimir
imprimir a página
artigo anterior

meio ambiente
| ongs | universidades| página inicial

opinião dos colunistas é de inteira responsabilidade dos mesmos