Estão com fome? Então destribuam brioches para o povo.
Essa antiga frase resume bem a indiferença, a falta de sensibilidade, à falta de responsabilidade, à falta de vergonha de boa parte da classe política brasileira para com o estado de calamidade na qual encontram-se chafurdadas áreas estratégicas para o desenvolvimento de qualquer nação, dentre as quais ressaltam-se a educação, a saúde e o meio ambiente. Todas em petição da mais absoluta miséria no país dos superávits.
A polêmica que envolve a Área de Proteção de Marapendi dá a idéia da confusão e da falta de objetividade que envolve o gerenciamento ambiental em nossa cidade. Segundo alguns, as alterações aprovadas pela câmara de vereadores são inconstitucionais, segundo outras opiniões o tombamento estadual é um bom caminho para a “preservação do ecossistema”, para “cicranos” a inviabilização do uso promoverá a “favelização” da área, enfim o que se houve é um mar de boas intenções por todos os lados, onde se tenta passar uma idéia de “virgindade lagunar” perdida há muito tempo no prostíbulo político da incompetência gerencial. A pergunta é: Vocês já navegaram pela laguna de Marapendi? Pois bem, eu faço essa navegação desde 1992 e de lá para cá só vejo as coisas piorarem não apenas em Marapendi, como em todo o sistema lagunar da baixada de Jacarepaguá, e NUNCA encontrei nenhum dos experts e “ambientalistas de auditório” que muitas vezes enchem a boca para falar em meio ambiente, trilhando as inúmeras áreas degradadas da baixada. Falando de forma prática, reafirmo que tecnicamente o tombamento
da APA de Marapendi não é o instrumento adequado para
colocarmos aquela unidade de conservação para existir
na prática. O tombamento serve única e exclusivamente
para gerar a possibilidade de trocas de idéias, ouvir sugestões
enfim fazer, salvo engano1, o que a câmara de vereadores deveria
ter feito e não fez. Fora isso, precisamos tratar o assunto de
forma objetiva, com as seguintes questões emergenciais, onde
arrisco em seguida possíveis respostas: O que acontece em Marapendi é o reflexo do que foi noticiado pela mídia no Parque Nacional de Jurubatiba, situado no norte do estado do Rio de Janeiro, onde após vários anos de profundos estudos desenvolvidos pelo Departamento de Ecologia da UFRJ, o governo federal criou o “primeiro parque de restinga do mundo”. Tá tudo muito bem, muito bonito! Placa, inauguração, autoridades, matéria no jornal e cadê o dinheiro para regularização fundiária, pessoal especializado, equipamentos e tudo mais que uma unidade precisa? “Ah, isso fica para depois”, deve ter pensado a autoridade após os comes e bebes. Pois bem, completando a tragédia, o atual gerente do IBAMA/RJ, na mesma matéria informa que por meio de medidas compensatórias, algum “dim-dim” vai regar a horta do parque. O triste da notícia é que, na declaração do IBAMA, flagra-se que não há dotação orçamentária para aquele importante parque, bem como para todas as demais unidades de conservação de nosso estado, onde salvo engano3, as mesmas aguardam ansiosamente que alguma tragédia ambiental se abata em algum outro lugar para que migalhas das medidas compensatórias possam chegar em forma de algum investimento para o paciente moribundo. Prezados leitores, são diárias as notícias que chegam de todos os pontos do planeta, que o mesmo já está claramente respondendo as interferências humanas em seus sistemas de homeostase. São refugiados ambientais em ilhas que são inundadas pela elevação dos oceanos, são alterações nas correntes do golfo do México, provocando queda das temperaturas em parte da Europa, degelo por toda parte, e aí fica a solitária pergunta para você que tem ou terá filhos: Em que mundo você deseja que seus filhos e filhas vivam? É essa a cidade que você queria que seus filhos e filhas vivessem? É para isso que pagamos a maior carga tributária planetária? Marapendi é apenas a ponta de um gigantesco iceberg, de incompetência,
falta de vontade política, apatia, resignação e
principalmente de miopia de um futuro que já chegou e traz consigo
nossos piores pesadelos tanto localmente como globalmente. Cabe a todos
que tem um mínimo de compromisso de fato com quem amamos, tomarmos
alguma atitude enérgica e para já. |
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Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br |