início bocadomangue Mario Moscatelli

A CATÁSTROFE PERFEITA

Tem determinados momentos na vida da gente, que sentimos que há algo de errado com a gente e ou com tudo ou quase tudo que nos cerca. É uma sensação muito esquisita, daquelas que antecedem um grande temporal. Aquele mormaço, aquela ausência de vento, ar pesado, nuvens negras, trovões batendo longe, mas com o som progressivamente chegando cada vez mais perto. Enfim um claro “distúrbio na Força”.

Quando leio a cada dia a soma de estudos que vêm sendo feitos a respeito do aquecimento global, da perda de gelo em quase todos os lugares, da onda de extinção em massa que estamos gerando em espécies conhecidas e naquelas que nem conhecemos, paro e lembro de partes do “Apocalipse” bíblico, “selos se abrindo”, “cornetas tocando dos quatro cantos” e sabe-se lá mais o que.

Fé ou superstições à parte, o que não há dúvida é que pela emissão crescente de dióxido de carbono norte-americano, associado ao crescimento econômico vertiginoso chinês e indiano, a situação dos níveis de emissão por enquanto continua sem controle imediato. Some-se a isso o ataque que os mecanismos planetários de homeostase do ciclo do carbono vêm sofrendo de forma suicida por parte da espécie humana. Tais ataques se dão seja pela acidificação dos oceanos que prejudicam a capacidade dos organismos marinhos de utilizar o carbono e portanto imobilizando-o ou pela supressão contínua das florestas, arrasadas por queimadas genocidas, torrando biodiversidade, trocada por pasto.

Destaca-se que alguns estudos até tem reduzido a importância das florestas quanto sua capacidade de filtro e depósito de carbono, no entanto na altura do campeonato, dentro da ótica da prevenção, muito mais sábio seria a manutenção do que resta de nossas florestas globais.

Parece-me que nos inúmeros documentos que tenho escrito nessa coluna, vez por outra, tenho tocado nesses assuntos. A novidade é a ação do “ex-futuro” presidente norte-americano Al Gore e seu documentário “A Verdade Inconveniente” que estreará nos cinemas brasileiros em novembro e que em resumo nos diz o seguinte:

1-Ou acordamos para o monstro que estamos criando diariamente, ou muitos de nós, ou muitos dos que amamos, não estarão aqui para ver no que vai dar tanta omissão e ação degradadora contra a nossa casa.

2-Mais do que isso nos alerta que existe solução, mas que a mesma exigirá um compromisso individual e coletivo de toda ou pelo menos daquela parte que decide da espécie humana.

veja agumas fotos alarmantes
Pois bem, aí olho para dentro de casa e analiso os discursos de nossos futuros administradores públicos, seja a nível estadual como nacional e sinto claramente a quase que completa ausência de preocupação na retórica e na prática para com as questões de natureza ambiental fruto direto da ausência de demanda de nossa sociedade por esse tipo de assunto.

No embate nacional escatológico entre cefalópode e chuchu, nem se ouviu falar em temas tais como biodiversidade, incremento de pesquisas na área de biodiversidade aplicada para fins industriais e farmacêuticos, proteção e efetiva implantação das unidades de conservação, saneamento básico, políticas com início, meio e fim para as grandes questões que envolvem a progressiva supressão da Floresta Amazônica bem como os demais biomas transformados em lavouras e moculturas, planejamento familiar, educação, etc., etc. Ficamos naquele “de onde vieram os tais milhões” de um lado e do outro “eu não sei de nada” bem como “aqueles meninos não sabiam o que faziam”.

Na verdade, enquanto nossa classe política estruturada em forma de quadrilhas se engalfinha para saber quem é que vai roubar mais nos próximos quatro anos, no mundo real, fruto das maracutais e da falta de política ambiental, os números do desmatamento na Amazônia são os seguintes (O GLOBO 22/10/06 – página 42):

1989- 18.9 mil Km2

1990- 13.8 mil Km2

1991-11.1 mil Km2

1992-13.8 mil Km2

1993-14.9 mil Km2

1994-14.9 mil Km2

1995-29 mil Km2

1996-18.2 mil Km2

1997-13.3 mil Km2

1998-17.4 mil Km2

1999-17.3 mil Km2

2000-18.2 mil Km2

2001-18.1 mil Km2

2002-23.3 mil Km2

2003-24.4 mil Km2

2004-26.1 mil Km2

2005-18.9 mil Km2

Diante desses dados, que eu olho com certa suspeita, visto que são dados oficiais, isto é do governo brasileiro, observa-se que sendo de ave ou molusco, os últimos três governos nada fizeram do que manter a taxa absurda de desmatamento naquele importante bioma.

Como colônia extrativista acabamos praticamente com a Mata Atlântica, reduzida à coisa de 6 a 7% de sua área original e perpetuamos nossa caminhada para o suicídio coletivo destruindo com o resto de sobrou desta como dos restantes biomas.

Reitero que nada vejo de novo, nem na retórica nem na prática dos “guvernantis” dessa colônia e digo mais, damos TODOS os motivos para uma INTERVENÇÃO INTERNACIONAL NA AMANZÔNIA, visto que o hemisfério norte sempre teve e têm bons motivos para intervenções nos pouco evoluídos cidadãos de quarta categoria do resto do mundo. Seja em nome da democracia, desde que bem ancorada em bilhões de tonéis de petróleo, em nome da fé em áreas geograficamente estratégicas, ou em nome da sobrevivência da humanidade em áreas ricas em biodiversidade e depósitos de água doce, sempre se dá um jeito para invadir e dominar. O pior de tudo é que em nosso caso, onde não há gerenciamento de P.N., os motivos de invasão, internacionalização ou o nome que vocês queiram dar acabam se justificando não apenas pela importância ambiental local e planetária da região como e principalmente pela incompetência do “poder pútrido” local no gerenciamento daquele patrimônio e da falta de atenção e pressão exercida pela apalermada sociedade brasileira “formadora de opinião”.

Vejam bem, aqui no Rio de Janeiro, em pleno século XXI, numa das áreas mais nobres da cidade, a Barra da Tijuca, até hoje lança sua merda no sistema de lagoas da região e sem previsão de resolução total do “probrema” pelo “guvernu du istadu”!. Para piorar o angu, a área vai sediar coisa de 60% das provas dos jogos Pan Americanos e junto da vila que vai abrigar os “atretas” passa um valão de merda que desce das favelas da região em direção a laguna do Camorim e posteriormente Tijuca e dessa para a praia da Barra!

Não é mole não! São pouco mais de 200 dias para reverter todo esse caos fecal e até o momento só existem cronogramas constantemente descumpridos e orçamentos estourados, bem como tudo mais que era o tal “legado” dos jogos “Pan Fecanianos”, na segurança, na saúde, no transporte, etc, etc., continua no papel.

Mas como disse, o importante é lembrar que nossas auturidadis cefalopidais federais sacam por mês para suas despesas mensais com cartões coisa de R$102.000,00/mês! Só para vocês terem uma idéia enquanto morre-se na fila dos hospitais sucateados e paga-se a tal CPMF sabe-se lá para que, “saques em dinheiro com cartões corporativos do presidente cefalópode e da primeira-dama já somam R$4.7 MILHÕES desde 2003” (Jornal do Brasil, 18/10/2006 pág. A2 e A3).

Para vocês se deleitarem com o desperdício de nossos impostos, “bem investidos” no bem estar de nossas “auturidadis”, acompanhem os saques em dinheiro feitos pelos ecônomos do cefalópode:

2003-R$1.366.000,00

2004-R$2.269.000,00

2005-R$680.700,00

2006-R$450.300,00 (até outubro)

(Jornal do Brasil, 18/10/2006 pág. A3)

No país de maior carga tributária do planeta, onde os escândalos das maracutais governamentais se reproduzem semanalmente, onde 73% dos brasileiros são tecnicamente analfabetos, onde ladrão é reeleito com votação recorde e terá foro privilegiado, onde diariamente leio o fuzilamento de crianças em favelas, onde a maioria das unidades de conservação só existe no papel e assim mesmo por tudo isso e muito mais, muito mais mesmo, poucos, pouquíssimos cidadãos e cidadãs se revoltam efetivamente é que eu afirmo que esses são os ingredientes perfeitos para A CATÁSTROFE PERFEITA, isto é, milhões de acéfalos e tantos outros milhões de brochas, milhares de espertalhões, quadrilhas espalhadas por todos os “poderes pútridos”, mamando, secando, chupando o tutano do organismo que aos poucos vai desaparecendo diante da enorme resposta da Natureza diante de tamanho desmando e loucura coletiva.

Não tenho dúvida se vai haver a CATÁSTROFE, mas sim quando é que ela virá com toda a sua força

Para quem quiser fazer alguma coisa, precisamos nos concentrar em adiar a chegada da CATÁSTROFE bem como tentar reduzir seus efeitos sobre nós tanto na área política como em nosso dia a dia.

Façam o melhor que puderem, pois seus descendentes agradecerão.

OBS:Se duvidam do tamanho do descaso aí vão mais algumas fotos da bacanal ambiental carioca.

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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