bocadomangue Mario Moscatelli

DA GAROTA DE IPANEMA À EGUINHA POCOTÓ, POCOTÓ, POCOTÓ.

Realmente eu não tenho jeito! Andava calmo, só com aqueles vazamentos rotineiros de esgoto na Lagoa, onde eu digo que é aquilo e a CEDAE diz que é barro, enfim aquela mesma história enfadonha de sempre, quando consegui fazer um novo sobrevôo.
Sobrevôo tipo para matar as "saudades" daquele visual caótico, parecido com as primeiras imagens do filme Blade Runner, lembram? Bons tempos àqueles perdidos no início da década de oitenta, quando eu adolescente, lá pelos falecidos Cine Copacabana e Art Copacabana via na telona o que eu ia acabar vivenciando ao vivo.

E lá fomos nós para cima e por cima da baixada de Jacarepaguá e, por incrível que pareça eu sempre consigo me surpreender com aquilo que eu vejo e também com o que não vejo lá do alto.
Inicialmente gostaria de comunicar as auturidades do executivo que não devem com certeza ler meus artigos, que a favela Rio das Pedras está inaugurando mais uma pequena estrada, que daqui algumas semanas vai ser uma pequena avenida com mais algumas dezenas de barracos e votos, é claro! Não acredita, então pega algo que voe e dê uma olhada! Parece até piada, pois dois meses atrás estava estampado em vários jornais a tal marcação que seria feita junto das lagoas para evitar o crescimento das "favelas lagunares".

A draga que ia dragar a laguna da Tijuca jazia morta, paradona, junto da avenida Ayrton Senna. Detalhe que isso não é de hoje. Será que cansou depois de ter de encarar tanto sofá e poltrona? Ou será que a lama andava muito temperada com metal pesado? De qualquer forma, seria bom saber o que está acontecendo e descobrir o tal cronograma, pois obras ambientais no Estado do Rio de Janeiro são que nem obra em casa, só se sabe quando começa, quando acaba, aí é exigir demais de nossos eficientes administradores públicos.

Voando mais para o lado do condomínio Rio 2 e para o futuro hospital da rede Sara, lá fui eu ver aquela pobre formação de restinga alagada virando um aterro clandestino de entulho e lixo em plena baixada de Jacarepaguá! E daí que é a baixada de Jacarepaguá? Aqui como no resto, a zona é generalizada! Não acredita? Vai voar e confira!

Lá pela baía de Guanabara enquanto as auturidades do executivo estadual conseguem tirar mais alguns empréstimos dos Japoneses para finalizar (!?) a obra de igreja da "despoluição" de nossa cloaca, prometendo novos prazos e cronogramas que eu tenho certeza que NÃO irão ser cumpridos, eu fiquei pensando na tal CPI. Será que alguém vai pagar alguma coisa por essa VERGONHA, por essa PIADA, por esse DESCALABRO que se tornou esse tal programa de despoluição? Lá do alto, manguezais transformados em latas de lixo, aterrados por lixões e favelas, rios como o Sarapuí, Iguaçu e São João de Meriti, mortos e podres, tão fedorentos como as lagoas e a praia da Barra durante as ressacas na baixa-mar.

Tudo tão podre, soltando tanto gás sulfídrico e metano que dava para sentir lá dos trezentos e tantos metros de altura e nós junto com os urubus voando num vôo ecumênico como irmãos.


Realmente o que dá para sentir depois de cada vôo é muita raiva e NOJO, muito NOJO mesmo dessa classe patológica e corporativista chamada política (salvo raras exceções). A cada leitura no jornal, quando essa gente aparece dizendo alguma velha novidade para dar encaminhamento com o tal grupo de trabalho da tal "problemática" ambiental, onde depois de chuva, MERDA boiando na praia de Copacabana é coisa normal e, mortandade de peixes na Lagoa é problema de excesso de peixe, chego a conclusão que essa gente tem a certeza cristalina que "pode empurrar que entra". Diga a maior barbaridade boçal que quiser que tenha certeza que acaba entrando, visto que entra coisa pior em tudo que é lugar e ninguém nem grita.

Com certeza andamos completamente perdidos do ponto de vista de políticas ambientais no Estado do Rio de Janeiro. Isso, até com aquilo que é estratégico para a nossa sobrevivência imediata, como é o caso da água que vem do Guandu, que hoje mais é uma pasta daquilo que a CEDAE chama na Lagoa de barro com tudo que encontrar no caminho até chegar no sistema de milagres da CEDAE, onde água diluída em "barro" depois de tratada vira água potável, sabe-se até quando.
Fica claro que nas últimas quase três décadas que se passaram sob o voto direto, não soubemos escolher alguma coisa que tivesse um mínimo de visão estratégica de no mínimo, de médio prazo e compromisso público com o futuro. O negócio foi continuar no tal poder e aproveitar enquanto desse. Pois é, e nessa visão muito clara para mim, que quanto mais miséria, mais favela, mais ignorância e mais voto baseado no assistencialismo e populismo do lema "Só Jesus Salva", a Cidade Maravilhosa da Garota de Ipanema e da bossa nova transmutou-se ambientalmente e culturalmente para a Eguinha Pocotó, Pocotó, Pocotó! Ao contrário de nos nivelarmos por aquilo que ainda tínhamos de melhor, nos deixamos afundar no que tínhamos de pior, conseguindo em pouco mais de trinta anos produzir espetáculos de degradação ambiental nas lagoas da baixada de Jacarepaguá tão preocupantes como aqueles vistos na Baía de Guanabara.

Pois é, cabe mais uma vez a nós contribuintes achacados diariamente e com o poder de voto, dar o troco o ano que vem a aqueles que nada mais querem do que continuar parasitando do que sobrou de nossa cidade. Esclareço que dar o troco não é só afastar aqueles que você enquadra como parasitas, mas selecionar o que há de melhor para representar o seu e o nosso interesse de viver novamente na cidade da Garota de Ipanema.

Ia esquecendo, finalmente as auturidades do executivo, ameaçadas pelo poder Judiciário, MP Federal e Estadual, finalmente se tocaram do problema da Ingá em Sepetiba, e começaram a fazer alguma coisa para reduzir o desastre que acontece há pelo menos vinte anos sem ninguém ter feito algo de fato. Vamos ver se não fica só nas ações iniciais emergenciais e daí por assim mesmo, como é de praxe em nossa cultura.

MARIO MOSCATELLI - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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