bocadomangue Mario Moscatelli

EARTH, WIND & FIRE

Enquanto estava aqui na frente do computador, escrevendo um trabalho de impacto ambiental, começou a tocar "That´s the way of the world" do querido grupo Earth Wind & Fire. Se você não lembra da segunda década de setenta, com o soul music e o dance music, a rádio Cidade com Sandoval, as discotecas, Donna Summer e aquele clima de porra louca, de ninguém é de ninguém, que tomou boa parte do mundo ocidental, depois da esfrega que o Tio Sam tomou no Vietnã, onde muito garoto norte-americano deixou o couro ou voltou completamente pirado ou sem alguma parte do corpo, você provavelmente não vai perceber o que estou sentido agora.

Nostalgia, uma baita nostalgia de pegar praia em Copa, em frente a Figueredo, pegar onda com meu querido coroa, tomar mate de botijão, voltar de tarde, assistir Star Lost, os Waltons e finalizando Disneylândia, comendo quibe e esfirra do Balbec da galeria Menescal.

Bons tempos, onde as eternas línguas negras e as freqüentes mortandades de peixes da Lagoa, não me afetavam emocionalmente nem um pouco. Cachorro e frescobol na praia, coisa comum até hoje, apesar de todas as leis, regulamentos, guardas municipais, polícia militar, não eram nem comigo.

Era um tempo de aproveitar o que eu tinha a disposição, sem muita reflexão, das causas e conseqüências.

Tempo de ir ao Carrefour quando apenas existia ele e as torres do Ataydeville naquela imensidão de restinga da Barra da Tijuca. Era a época da ditadura, mas para mim não existia nada, pois eu tinha quatorze anos!

Hoje, meu olhar clínico me desgasta o emocional diante de tanta sacanagem, por todo lado que olho. Talvez precise buscar outro horizonte, dar um tempo. Tempo que na verdade não temos. Sim, não temos, todos nós, diante do que está acontecendo com aquilo que sobrou.

Ando preocupadíssimo com a situação da bacia do Guandu, da água que abastece nossa cidade e a uma população de aproximadamente sete milhões de pessoas. Não vejo ação clara do administrador público no que diz respeito da solução desse como de qualquer outro grave problema ambiental. O que ouço pela mídia é propaganda enganosa. É para a mídia ver o factóide e retransmitir a população aquelas soluções sem cronograma, que a gente sabe que não vão dar em nada e se forem implementadas, tem tudo para ficarem pelo meio do caminho.


Tem sido assim, é só fazer uma breve retrospectiva com o Projeto de Despoluição da Baía de Guanabara, Gerenciamento da Lagoa, Praia de São Conrado, Saneamento da Baixada de Jacarepaguá, Combate às Línguas Negras e por aí vai. Uma ZONA institucionalizada onde quem deveria gerenciar e resolver os problemas, em geral, não está nem aí, bem como a maior parte da população que parece que também não saiu daquela maravilhosa época da minha adolescência, onde pouca coisa me afetava.
Pois é, e enquanto isso nesse calor de 35 graus, onde as multinacionais andam comprando, por tudo que é lado, nascentes de água, nós rumamos idiotamente direto ao desabastecimento. Quando digo nós, estou falando de uma parcela da população que tem água todo o dia em casa, pois tem muita gente que desde quando nasceu já incorporou a velha rotina da falta, falta de água, falta de segurança, falta de comida, falta de vergonha.
Bom mesmo era em 1975, Earth Wind & Fire com seu "After the love has gone", meu poderoso som Polivox 1.500, com duas caixas AKS, estroboscópios e vamos lá com Village People e tudo mais que vier.

Enfim passou e não posso abandonar a responsabilidade, pois tenho compromissos assumidos geneticamente com minha prole.
Foi bom, mas passou e agora temos de lutar para que não venhamos a fatalmente cometer o erro de pensar que no final tudo acaba bem. A história mostra que as coisas não são bem assim e precisamos nos organizar e aproveitar o ano que vem para fazermos uma bela faxina nesses políticos que se alimentam de nossas esperanças e que precisam mostrar efetivamente serviço e profissionalismo.
Admirem amigos, o belíssimo exemplo da população da república da Geórgia que foi ao congresso e tirou "na boa" o presidente incompetente. Por lá sobra vergonha na cara. Talvez esse pessoal da Geórgia, pudesse exportar a preços de ponta de estoque, algum desse produto historicamente escasso por aqui!
O recado está dado.
Por enquanto continuo, no embalo ouvindo September e Fantasy e bebendo água mineral, é claro!

MARIO MOSCATELLI - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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