Enquanto
estava aqui na frente do computador, escrevendo um trabalho de impacto
ambiental, começou a tocar "That´s the way of
the world" do querido grupo Earth Wind & Fire. Se você
não lembra da segunda década de setenta, com o soul
music e o dance music, a rádio Cidade com Sandoval, as discotecas,
Donna Summer e aquele clima de porra louca, de ninguém é
de ninguém, que tomou boa parte do mundo ocidental, depois
da esfrega que o Tio Sam tomou no Vietnã, onde muito garoto
norte-americano deixou o couro ou voltou completamente pirado ou
sem alguma parte do corpo, você provavelmente não vai
perceber o que estou sentido agora.
Nostalgia, uma baita nostalgia de pegar praia em Copa, em frente
a Figueredo, pegar onda com meu querido coroa, tomar mate
de botijão,
voltar de tarde, assistir Star Lost, os Waltons e finalizando Disneylândia,
comendo quibe e esfirra do Balbec da galeria Menescal.
Bons tempos, onde as eternas línguas negras e as freqüentes
mortandades de peixes da Lagoa, não me afetavam emocionalmente
nem um pouco. Cachorro e frescobol na praia, coisa comum até
hoje, apesar de todas as leis, regulamentos, guardas municipais,
polícia militar, não eram nem comigo.
Era
um tempo de aproveitar o que eu tinha a disposição,
sem muita reflexão, das causas e conseqüências.
Tempo
de ir ao Carrefour quando apenas existia ele e as torres
do Ataydeville naquela imensidão de restinga da
Barra da Tijuca. Era
a época da ditadura, mas para mim não existia
nada, pois eu tinha quatorze anos!
Hoje, meu olhar clínico me desgasta o emocional diante de tanta sacanagem,
por todo lado que olho. Talvez precise buscar outro horizonte, dar um tempo.
Tempo que na verdade não temos. Sim, não temos, todos nós,
diante do que está acontecendo com aquilo que sobrou.
Ando preocupadíssimo com a situação da bacia do Guandu,
da água que abastece nossa cidade e a uma população de aproximadamente
sete milhões de pessoas. Não vejo ação clara do administrador
público no que diz respeito da solução desse como de qualquer
outro grave problema ambiental. O que ouço pela mídia é propaganda
enganosa. É para a mídia ver o factóide e retransmitir a
população aquelas soluções sem cronograma, que a
gente sabe que não vão dar em nada e se forem implementadas, tem
tudo para ficarem pelo meio do caminho. |
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Tem sido assim, é só fazer uma breve retrospectiva
com o Projeto de Despoluição da Baía de Guanabara,
Gerenciamento da Lagoa, Praia de São Conrado, Saneamento
da Baixada de Jacarepaguá, Combate às Línguas
Negras e por aí vai. Uma ZONA institucionalizada onde quem
deveria gerenciar e resolver os problemas, em geral, não
está nem aí, bem como a maior parte da população
que parece que também não saiu daquela maravilhosa
época da minha adolescência, onde pouca coisa me afetava.
Pois é, e enquanto isso nesse calor de 35 graus, onde as
multinacionais andam comprando, por tudo que é lado, nascentes
de água, nós rumamos idiotamente direto ao desabastecimento.
Quando digo nós, estou falando de uma parcela da população
que tem água todo o dia em casa, pois tem muita gente que
desde quando nasceu já incorporou a velha rotina da falta,
falta de água, falta de segurança, falta de comida,
falta de vergonha.
Bom mesmo era em 1975, Earth Wind & Fire com seu "After
the love has gone", meu poderoso som Polivox 1.500, com duas
caixas AKS, estroboscópios e vamos lá com Village
People e tudo mais que vier.
Enfim
passou e não posso abandonar a responsabilidade, pois tenho
compromissos assumidos geneticamente com minha prole.
Foi bom, mas passou e agora temos de lutar para que não venhamos
a fatalmente cometer o erro de pensar que no final tudo acaba bem.
A história mostra que as coisas não são bem
assim e precisamos nos organizar e aproveitar o ano que vem para
fazermos uma bela faxina nesses políticos que se alimentam
de nossas esperanças e que precisam mostrar efetivamente
serviço e profissionalismo.
Admirem amigos, o belíssimo exemplo da população
da república da Geórgia que foi ao congresso e tirou
"na boa" o presidente incompetente. Por lá sobra
vergonha na cara. Talvez esse pessoal da Geórgia, pudesse
exportar a preços de ponta de estoque, algum desse produto
historicamente escasso por aqui!
O recado está dado.
Por enquanto continuo, no embalo ouvindo September e Fantasy e bebendo
água mineral, é claro!
MARIO
MOSCATELLI - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br
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