.Planeta Oceano Agenor Cunha da Silva

AMBIENTALISMO (Conceitos e implicações)

Dentro da atual conjuntura econômica o ambientalismo verte suas ânsias para se projetar como única saída para solucionar os problemas que surgem. Fica cada vez mais difícil manter o convívio sustentável com o Planeta.

Nesse quadro um tanto quanto conturbado a espécie humana atropela o tempo. Ignora a evolução dos processos geológicos e passa a competir com a natureza.

Ao abordar esses aspectos me permito fazer uma analogia com uma declaração dada a um repórter esportivo, quando em entrevista a um célebre componente da Seleção Brasileira e jogador se referiu a um companheiro que acabava de se integrar ao seu time. Disse ele; “ acabou de chegar e já quer sentar na janela”.

Não muito longe dessa situação o Homem, que no âmbito da Geologia, acabou de embarcar no seu único meio de transporte passa a sofrer de profunda amnésia. Distancia-se da natureza; “quer sentar na janela”; quer mudar tudo. Além de se afastar do meio promovem-se ações que acabam em agressões e destruição dos ambientes sem se aperceber do cenário de autoflagelo em que ele mesmo é a principal personagem. Continentes, oceanos e a atmosfera são constantemente afetados e agredidos pelas ações que acabam por interferir nos processos naturais desestabilizando o equilíbrio ambiental. Nesse contexto, o ambientes costeiro, interface entre oceanos e continentes, devido a sua extrema sensibilidade às variações dos processos deposicionais geralmente é o que primeiro mostra as consequências danosas.

É importante que saibamos avaliar situações críticas nesses ambientes. Geralmente, a condição de termômetro natural capaz de sinalizar as agressões antrópicas não é devidamente interpretada. Eventos extremos que podem alterar as feições costeiras como erosão e deposição dos sedimentos poderiam ser mitigados e talvez evitados com a aplicação racional de programas de preservação a partir de ações efetivas e contínuas na área de educação ambiental.

Casos de degradação da área costeira como os que atualmente estão em curso nas praias de Atafona no litoral do Estado do Rio de janeiro revestem-se de grande importância em relação ao aprendizado necessário para se contornar os problemas que vem afetando àquela região. Nesse contexto, é digno de nota o esforço que alguns geocientistas e Instituições governamentais vêem exercendo. Um bom exemplo é o Projeto Caminhos Geológicos do Departamento de Recursos Minerais do Rio de janeiro (DRM-RJ), em parceria com outros Órgãos e Universidades, que sob a Coordenação de Geólogos e Especialistas desenvolvem excelentes estudos para equacionar os problemas que Atafona vem sofrendo. Nesse Projeto, são abordados os principais fatores relacionados com as intervenções provocadas pelo homem são:

•  A retirada de água do rio para abastecer cidades, agricultura, etc. - a redução do volume de água do rio diminui a ação de barreira hidráulica das águas do rio e deixa a parte sul do delta desprotegida do ataque das ondas de direção nordeste.

•  Construção de barragens para regularização do fluxo do rio - as barragens evitam enchentes e inundações, porém dificultam a chegada dos sedimentos até a foz, o que favorece a erosão.

•  Retirada de areia do canal do rio para a construção civil - também diminui a quantidade de sedimento que constrói o delta.

•  Colocação de espigões de pedra (chamados de guias correntes) - implantados da praia em direção mar adentro para manter o canal de navegação na foz, barram o sedimento, favorecendo a erosão.

AMBIENTALISMO
“A Terra levou bilhões de anos para construir as rochas, os minerais, as montanhas e os oceanos. Proteja esta obra-prima!”

Numa perspectiva histórica esse Projeto relata que desde os anos 50, Atafona vem sofrendo um processo de erosão das praias que atinge, também, as residências. Desde aquela época, a ação do mar derrubou 183 construções em 14 quadras, destruindo uma igreja, uma escola, um posto de gasolina, diversas casas de comércio, 2 faróis da Marinha do Brasil e moradias. A área atingida corresponde ao tamanho de 40 campos de futebol. A velocidade de erosão é variável ao longo do ano e pode ser mais intensa em alguns anos e menos em outros. A maior atividade erosiva ocorre de novembro até março. Nos outros meses a praia pode até aumentar temporariamente. O mar avança quase 3 metros por ano sobre Atafona. Esta velocidade de erosão não é igual para toda a área, ou seja, as áreas mais baixas são erodidas com maior velocidade do que as mais elevadas.

Apesar de chamar atenção das autoridades e da própria população para esses problemas ambientais verifica-se que esse tipo de ação não faz parte das preocupações das autoridades com os ambientes. As agressões continuam; por necessidades econômicas, políticas habitacionais e as mais inconfessáveis conveniências. Há de se considerar que as intervenções nos ambientes costeiros necessitam de estudos e investimentos em pesquisas para ampliar o conhecimento sobre os processos deposicionais afetam os ambientes costeiros. Qualquer interferência nesses ambientes necessita do conhecimento dos processos. Como, onde e porque e de que forma estão se desenvolvendo. Não devemos simplesmente “ nos sentar à janela” e tentar mudar tudo sem o conhecimento básico das implicações e da derrota a percorrer. É Importante que tenhamos consciência da necessidade em desenvolver Projetos e Programas de Gerenciamento Costeiro. Mais importante ainda é que procuremos sensibilizar a todos para os problemas potenciais dos ambientes. Cada comunidade deve procurar determiná-los. Enchentes, erosões, deslizamentos e tanto outros problemas que parecem adormecidos geralmente ao despertar cobram preços ceifando vidas que jamais se aperceberam dos cenários e perigos com que conviviam.

É fundamental, por tanto, a maior atenção das autoridades para esses problemas. Talvez, seja a forma correta de justificar os altos impostos que são cobrados, já que as populações envolvidas e as futuras gerações irão julgar e usufruir desse legado. É importante divulgar para essas gerações alguns conceitos fundamentais de Projetos como os do DRM-RJ, como aqueles que são encontrados nos “Pontos de Interesse Geológico”, em placas que lembram que - “A Terra levou alguns bilhões de anos para construir as rochas, os minerais, as montanhas e os oceanos. Proteja esta obra-prima!”.

Prof. Dr. Agenor Cunha da Silva - prof_agenor@hotmail.com
USU/ICBA - RJ

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