.Planeta Oceano Maximiliano Freitas

Trezentos golfinhos

Logo que me formei em Oceanografia na Uerj, fui selecionado para trabalhar no Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), em Arraial do Cabo. Durante aquele tempo fiz vários amigos entre os oceanógrafos, biólogos e outras criaturas marinhas bizarras que habitavam aquelas salas e laboratórios, e de vez em quando nos encontrávamos na casa de um ou de outro depois do fim de tarde. Comíamos peixe fresco e jogávamos conversa fora, ao som de Midnight Oil e Santana.

Lembro-me que, em um desses encontros, passamos horas falando sobre um dos mais magníficos e intrigantes seres marinhos: os golfinhos. Todos tinham historias sobre contatos submarinos com Tursiops truncatus, barcos escoltados por famílias de Delphinus delphis e, até mesmo, visões de enormes dorsais de Orcinus orca contra o sol poente. Mas nenhum de nós seria capaz de imaginar a surpresa que nos aguardava na manhã seguinte.

Ao amanhecer, já corria pela cidade a noticia de que um grupo de trezentos golfinhos nadava entre o boqueirão e a Pedra Vermelha!!! Parecia historia de pescador, mas tínhamos que dar um jeito de checar!

Conseguimos uma carona em um barco de pesquisa que já estava programado para outra tarefa e passaria pela área onde estariam os tais trezentos golfinhos. E, apesar de um certo exagero da estimativa inicial, de fato lá estava, diante de nossos olhos, um fantástico grupo de mais de cem exemplares de Stenella. Adultos e filhotes pintados que saltavam sobre a superfície, como se tivessem ensaiado uma coreografia mágica.
Nos dias que se seguiram, tivemos a oportunidade e o prazer de mergulhar entre eles, em águas com visibilidade superior a 15 metros. Pareciam curiosos e passavam ao nosso redor, olhando-nos atentamente e cantando suas músicas de golfinho. Quase podíamos tocá-los com as mãos, mas eles certamente nos tocaram em nossos espíritos.

Querem saber como me senti? Sinto muito, mas não tenho habilidade literária para descrever. Só posso sugerir que vocês mergulhem nesse universo líquido e tentem descobrir que sensação é essa, que só quem vai ao mar pode entender.

Em alguns dias o grupo foi diminuindo. Ninguém soube porque vieram, porque partiram ou para onde foram. Ficaram apenas as lembranças daqueles dias de raro encantamento, quando o oceano parecia querer nos mostrar tudo que pode nos proporcionar... em troca de um pouco de amor e respeito.

Maximiliano Freitas - max@biologo.com.br

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