.Planeta Oceano Maximiliano Freitas

Grandes Brancos na África

Grandes Brancos

Estava em Cape Town, Africa do Sul, participando da implementação de projetos ambientais para uma empresa de petróleo que viria operar no Brasil. Pensei, então, que teria uma oportunidade única de realizar um sonho de muitos mergulhadores: mergulhar com os tubarões brancos (Charcharodon charcharias).

A imersão em jaulas de aço para observar essas magníficas criaturas em seu habitat natural é uma preciosidade no logo book de qualquer mergulhador. Era dezembro. Entrei na operadora de mergulho e me deparei com aquelas fotos e posters mostrando imagens incríveis dos mergulhos. Meu coração disparou.

Mas a atendente jogou um balde de água fria nas minhas expectativas. Ela me informou que, até novembro, a probabilidade do encontro era de 95%, mas, a partir desse mês, só havia 5% de chance. Como a operação custava a “bagatela” de US$ 200, resolvi, em meio à minha profunda decepção e falta de grana, deixar pra próxima...

Uma van me apanhou no hotel dois dias depois para uma visita, com mais uma meia dúzia de turistas, ao Cabo da Boa Esperança. O nome do lugar me fazia recordar a esperança frustrada de olhar um tubarão branco nos olhos - e voltar pra contar, é claro! Nosso guia era o Bruce, um surfista coroa, super gente boa, que usava um chapéu estilo “Crocodilo Dundee”.

Em nosso passeio passamos por uma praia belíssima chamada Sunrise, de onde se podia avistar a Seal Island (Ilha da Foca). Ao redor dessa ilha, como o nome faz supor, os grandes brancos costumam fazer umas refeições calóricas. Mas Bruce confirmou: “Não vamos ouvir falar deles nos próximos meses”.

Mas ao final do “sightseeing”, soubemos que um surfista havia sido atacado por um tubarão dois dias antes, em uma enseada poucos quilômetros a leste dali. O rapaz levou apenas uma mordida na coxa, mas a profundidade do ferimento e a demora em conseguir socorro custaram-lhe a vida. As marcas dos dentes e o contorno da mordida não deixaram duvida sobre a identidade do agressor.

Esse fato nos mostra que, por mais que conheçamos os hábitos e ciclos dos seres que convivem nesse impressionante universo subaquático, sempre haverá um toque do imprevisível, do inexorável. E é realmente triste que isso leve a uma tragédia pessoal.

Mas eventos como esses também não podem ser usados para classificar essas incríveis máquinas de caça como assassinos cruéis. Nas águas turvas, um surfista pode ser confundido com uma foca ou leão marinho que nada muito lentamente... Uma refeição perfeita! Todos preferimos que nosso almoço fique quieto no prato, e não saia correndo pela sala de jantar.

O grande branco e muitas outras espécies de tubarões estão seriamente ameaçados como resultado de matanças motivadas pelo medo, da pesca predatória para aproveitamento apenas de suas barbatanas - uma iguaria na Ásia – ou da destruição de seus habitats.

É importante que sejam implementadas medidas educacionais e ações efetivas para que sejam garantidos a segurança e o bem estar de todos os que usam o mar para lazer ou sobrevivência. Sejam eles humanos ou tubarões. Afinal, não podemos nos esquecer que esses caras chegaram aqui 300 milhões de anos antes de nós!

Maximiliano Freitas - max@biologo.com.br

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