oceano .Planeta Oceano Maximiliano Freitas

Expedição ao Almirante Saldanha

Costumamos associar os ambientes costeiros – como os recifes de corais – a uma grande diversidade biológica, enquanto as águas azuis do oceano profundo muitas vezes nos transmitem uma sensação de espaço vazio. Entretanto, em uma de minhas primeiras expedições oceanográficas fiquei maravilhado com a quantidade de formas de vida que se mostravam aos olhos da equipe.

Cardumes de peixes voadores da família Exocoetidae refletiam os raios do sol poente acima das ondas. Lulas de 40 cm eram atraídas pelas luzes dos equipamentos submersos durante a noite. Dezenas de baleias jubarte e francas percorriam suas rotas migratórias, passando a poucas dezenas de metros de nosso navio.

Golfinhos surfaram em nossa proa em diversas ocasiões. Baleias minke e até um pequeno cachalote foram avistados ao longo daqueles dias de outono.
Mas o que mais chamou nossa atenção foram as amostras biológicas retiradas do Banco Almirante Saldanha. Como podemos ver na imagem de satélite abaixo, esse monte é uma elevação isolada na bacia oceânica do Atlântico Sul ocidental, localizado a mais de 300 km da costa brasileira. É uma montanha alta, cuja base encontra-se em torno dos 4.000 m e o topo fica a cerca de 60 m da superfície!

Almirante Saldanha

É impressionante examinar o gráfico traçado pelo ecobatímetro e ver o fundo do oceano se aproximar rapidamente do casco do navio, como se quisesse vir ao nosso encontro para nos mostrar seus mistérios.

Ao chegarmos no ponto de amostragem, lançamos o disco de Secchi e verificamos que ele podia ser visto além dos 45m de profundidade, mostrando a incrível transparência das águas azuis do oceano profundo, livre da influência dos sedimentos carreados pelos rios para as águas costeiras.

Iniciamos, então, o levantamento de diversos parâmetros oceanográficos. Utilizando uma draga Van Veen trouxemos amostras do fundo para a superfície e ficamos espantados com a diversidade de invertebrados e peixes. Esponjas multicoloridas, delicados briozoários e equinodermas, nódulos de algas calcárias vermelhas com pequeninos peixes brilhantes vivendo em suas minúsculas reentrâncias.

Depois daquela viagem passei a olhar de uma maneira diferente para o manto azul que cobre o oceano. Deixei de imaginá-lo como um grande deserto azul, e descobri que ele apenas recobre um mundo de cores e movimento capaz de surpreender a imaginação do mais criativo e talentoso dos artistas.

Maximiliano Freitas - Oceanógrafo, Instrutor PADI - max@biologo.com.br

imprimir
imprimir a página
artigo anterior

.

meio ambiente urgente | links de biologia marinha | inicial

A opinião dos colunistas é de inteira responsabilidade dos mesmos