planeta água .Planeta Oceano Agenor Cunha da Silva

Água - Tesouro comum da humanidade

Por mais que queiramos discorrer sobre assuntos gerais ligados à dinâmica da vida no nosso país, como geocientistas acabamos logicamente convergindo para questões sobre as quais temos maior domínio e mais intimidade.

Assim, é que ao tentar optar por algum assunto que possa despertar o interesse dos meus leitores sempre acabo abordando assuntos relacionados às águas. Pensando bem, é realmente um assunto empolgante e de extrema importância. Vida e água caminham de mãos dadas. Sem ela, pouca ou nenhuma probabilidade temos de sobreviver.

No imenso leque de opções que existe em relação aos tipos de alimentos e os inúmeros hábitos alimentares que encontramos espalhados pelo planeta, verificamos as mais estranhas opções.

Muitas das vezes, estes hábitos são arraigados aos distintos aspectos culturais que acabam por estabelecer e impor tipos de alimentação aos quais nem sempre estamos familiarizados. Cada povo desenvolve hábitos próprios e particulares de se alimentar. Neste contexto, é possível verificar que em relação à água as particularidades são colocadas de lado.

Todo ser humano, em qualquer parte do mundo, sob quaisquer condições ambientais, psicológicas ou culturais, necessita de água. Beber, banhar ou se divertir são atividades que incluem a utilização do precioso líquido.

Este ano, de 2004, definido como “Ano Internacional da Água”, ressalta ainda mais a sua importância e chama à responsabilidade cada habitante do planeta. Resguardar e preservar os recursos hídricos não pode ser uma questão afeta apenas às autoridades. Cada um tem sua parcela de responsabilidade. A sensação que se tem é a de que estão tentando resgatar um tempo perdido. Um tempo de desperdício, onde pouca ou nenhuma atenção era dada à água. Durante muito tempo, a falta de políticas e de consciência ambiental foi dominante. A falta de ações, para preservar o precioso líquido, fez com que certas áreas localizadas em regiões com baixos índices pluviométricos entrassem em processo de degradação em todos os setores. Acabaram se tornando inabitáveis pela falta do precioso líquido. Neste processo evolutivo tais resultados acabaram por forçar o aparecimento da necessidade de se implantar e desenvolver, ainda que de forma embrionária, novas diretrizes políticas, voltadas para o ambiente. É neste ponto que as questões ambientais começam a tomar vulto. São estabelecidas discussões e se procura formar opiniões no sentido de reduzir as agressões contra a natureza.

Apesar de todo o esforço que pessoas mais conscientes vem fazendo, constatamos que ainda estamos muito aquém daquilo que foi proposto em relação às questões ambientais. Principalmente em relação àquelas voltadas para os recursos hídricos. Ainda estamos bem longe de conseguir a gerenciar os recursos naturais do ambiente. Pesquisas sobre o aproveitamento de energia solar, de energia eólica ou das marés, ainda são muito primitivas. Engatinham ou simplesmente não chagam a se desenvolver pela falta de recursos. Ao contrario, os recursos a elas destinados são cada vez mais reduzidos.

Ao meu ver, discussões sobre a construção de refinarias poderiam ser relegadas a segundo plano. Quanto mais refinarias existirem, mais problemas de agressão ambiental certamente vão ocorrer. Maior será a quantidade de veículos diariamente lançando partículas na atmosfera. Urge que novas alternativas sejam encontradas. Aliás, programas que se utilizam de fontes alternativas devem ser incentivados. Não são os animais nem as plantas que devem ser extintos.
Tempos futuros, e dias melhores são esperados. Tempos em que os níveis de desenvolvimento passem a ser medidos, não apenas pelo crescimento do numero de refinarias, mas sim por sua extinção e substituição por processos naturais onde prevaleça a possibilidade de se gerar energia sem agredir ou interferir prejudicando o ambiente. A atual busca pelo equilíbrio vital com a integração harmônica do homem à natureza é um anseio que se espalha de forma muito positiva. Isto pode ser traduzido na busca das melhorias que se processam na qualidade de vida em alguns paises. Certamente, o conjunto de ações converge para a preservação dos recursos hídricos de forma jamais vista. A conservação dos recursos naturais, mormente aqueles existentes nos mares, rios, lagos e no subsolo já constitui parte integrante da maior parte das políticas publicas. Apesar disso, ainda existem muitas questões pendentes. Principalmente aquelas que envolvem o controle e o domínio dos mares.

Questões adicionais se interpõem na exploração dos Oceanos. Na a disputa pela posse dos mares a capacidade e o desenvolvimento tecnológico aparecem como condições indiscutíveis a serem alcançadas. Sem capacidade e tecnologia jamais país algum conseguirá explorar as riquezas dos oceanos. Somente o conhecimento do ambiente no que tange aos seus processos físicos e químicos pode assegurar uma exploração racional do oceano. Interessantes são alguns temas sobre os Oceanos que são relacionados abaixo. Foram temas publicados pela revista “veja”, onde encontramos algumas considerações sobre diversos aspectos e questões que envolvem as relações de posse e domínio sobre os mares. Assim, temos:

Mare nostrum — Enquanto todos correm para o mar, o Brasil, com 7.408 quilômetros de litoral (uma das cinco maiores extensões costeiras do mundo), olha para o oceano com esperanças, mas ainda com timidez. Uma pesca primitiva e o início da pesquisa de petróleo na plataforma continental: isso é tudo, por enquanto. Mas começa a soprar um vento de popa na viagem brasileira para o oceano. A Petróbras atualmente perfura o fundo do mar no litoral de Aracaju. Usa uma plataforma flutuante marítima — a "Petróbras I" — e uma sonda que desce a 4.000m. Mais seis locais serão pesquisados, em Sergipe, Espírito Santo e Alagoas. Enquanto isso chegou a Santos o Navio do Instituto Oceanográfico de São Paulo, o "W. Besnard", que terminou sua terceira viagem de estudos sobre a corrente e sobre a flora marítima entre Espírito Santo e Rio Grande do Sul.

Mais peixes — A viagem do "W. Besnard" é parte de um programa para melhorar as condições de pesca brasileira. O Brasil extrai do mar apenas 1% de sua alimentação, enquanto no resto do mundo a média é 4%. A sardinha, mais abundante pescado brasileiro, é tirada do mar na razão de 100 quilos por hectare. O resultado é medíocre quando comparado a pesca da anchoveta, a sardinha do Peru: 2.100 quilos por hectare. (Os números servem para mostrar como é generoso o mar: 1 hectare de terra é o que um boi exige para dar ao homem só 20 quilos de carne.). O Brasil não precisa apenas do milagre da multiplicação dos peixes: suas reservas minerais submarinas também continuam intocadas. Segundo o Capitão-de-Mar-e-Guerra Paulo de Castro Moreira da Silva, 45 anos, quando na década de 70 era diretor do Instituto de Pesquisas Marítimas da Marinha, além do petróleo, o fundo do mar brasileiro tem calcário (litoral baiano: o calcário é ótimo fertilizante), areias monazíticas (mineral atômico, na plataforma continental do Espírito Santo) e fosfatos, descobertos recentemente nas águas de Cabo Frio, excelentes fertilizantes, talvez a maior riqueza do mar brasileiro.

Minérios - Em muitos lugares, o mar oferece espontaneamente os seus tesouros. Na foz do Amazonas, recentemente, o navio japonês "Tóquio Maru" não conseguia arrastar suas redes no fundo do mar devido ao peso de pedras de manganês, que chegam a formar um duro tapete na plataforma continental do Norte. No Sul há magnetita (minério de magnésio, metal usado em blocos de motor) e ilmenita, minério de tório, combustível dos reatores nucleares.

Os donos do mar — De quem é o oceano? Esta é uma das perguntas que motivaram a reunião da ONU, no Rio, durante duas semanas. A conferência discutiu apenas o mar profundo. O mar litorâneo já tem seus donos. Para a maioria dos países (o Brasil entres eles), uma faixa de 6 milhas acompanhando o litoral é parte do território nacional: nela, o país é soberano e só permite aos demais a passagem de "barcos inocentes", não dedicados nem à pesca, nem à guerra. Em outra faixa, de mais 6 milhas, contíguas à primeira, a nação se reserva os direitos de pesca, embora não reivindique a soberania. Isso na superfície; quanto à plataforma continental, todos os países a consideram território nacional. No Brasil, ela corresponde a uma faixa com largura média de 67 quilômetros e 850.000 quilômetros quadrados, um décimo da área continental brasileira.

O mar de todos — Mas de quem é o alto mar, o mar profundo que constitui 90% do oceano? Os países pequenos e fracos acham que ele deve ser de todos e de ninguém. Os países grandes e fortes acham que o assunto precisa ser bem discutido. A pequena ilha de Malta (246 quilômetros quadrados, no Mediterrâneo, ao sul da Sicília), país que propôs a conferência do Rio, acha (e nisso tem o apoio dos subdesenvolvidos) que o mar deve ser internacionalizado e explorado em benefício de todos. E que devem ser proibidas as atividades militares em seu leito. Os americanos querem melhor definição do que Malta entende por "atividades militares". Perguntaram na conferência: um submarino estaria violando a lei? Uma mensagem militar pelos cabos submarinos seria permitida? Estas perguntas serão em breve respondidas.


Concluindo, podemos verificar que as discussões sobre a disponibilidade dos recursos marinhos ainda se encontram em fase bastante embrionária. Discussões sobre a disponibilidade e a quantidade dos estoques marinhos ou dos alimentos que ainda existente nos mares, e a quem realmente pertencem as suas riquezas são questões pouco abordadas pela mídia. Devem continuar a serem colocadas não apenas para comunidade cientifica, mas para todos.

As águas devem ser utilizadas por todos. Sem restrições. É necessário reconsiderar as relações de disponibilidade do precioso liquido. A distribuição uniforme da água, considerada situação ideal, parece estar comprometida. Devemos considerar, que tanto a sua escassez quanto o seu excesso pode ser fatal. É importante que se procure manter as relações a todo custo. O que realmente quero expressar é minha preocupação quanto às interferências que o homem vem causando em relação ao ambiente.

É necessário chamar a atenção e conscientizar a todos dos riscos que as agressões ambientais representam. Deve-se procurar esclarecer, por exemplo, que a supressão da cobertura vegetal tem serias conseqüências e afeta globalmente todas as trocas entre a superfície e atmosfera. Elas afetam e comprometem o ciclo hidrológico, que passa a funcionar de forma irregular. Acaba por permitir alterações que resultam na intensificação dos processos climáticos podendo inclusive provocar enchentes ou secas em áreas antes estáveis. É fundamental nos conscientizarmos de que “a vegetação é o amortecedor climático da natureza”. Devemos sempre ter em mente que a maior das riquezas não está limitada aos oceanos. Mas sim no próprio homem. Na sua capacidade e no conhecimento que é agregado a cada dia.

Encerro este artigo afirmando que não deveria existir apenas um ano “Internacional das Águas”, mas sim um Século, um Milênio e mais ainda uma Eternidade voltada exclusivamente para a valorização da água. Era de Esperança. Esperança de que este elemento seja considerado por muito tempo não apenas bem comum da humanidade, mas sim como o grande Tesouro. Água, Tesouro Comum da Humanidade. Sem ela a vida dificilmente poderá continuar a existir neste planeta ou em qualquer outro canto do Universo.

MSC. Agenor Cunha da Silva - agenor@biologo.com.br
USU/ICBA - RJ

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