Biocombustíveis
.
O debate sobre
o uso de biocombustíveis está cada vez mais em voga, pois
é sabido, com muita clareza, que os combustíveis fósseis,
os mais utilizados, são finitos e as reservas terrestres só
tendem a diminuir e terminar, sem renovação. Além
disso, são extremamente poluidores e causam sérios desequilíbrios
no ambiente.
As plantas mais utilizadas atualmente para produção do biodiesel são a soja, a colza, o pinhão manso, mamona, dendê, girassol e macaúba. As mais produtivas são o dendê (Elaeis guineensis) e a macaúba (Acrocomia aculeata - típica do litoral brasileiro), confirmando a potencialidade das palmeiras. A soja (Glycine Max) é a mais utilizada nos EUA, onde também é comum misturar com restos de óleos usados para fritura. A colza
(Brassica napus) é a principal planta estudada e plantada
para este fim na União Européia. Tendo em vista tantas vantagens, o governo brasileiro têm estimulado a produção e comercialização do biodiesel, sendo o marco principal a publicação do Decreto No. 5.488, em 20 de maio de 2005, que regulamenta a lei 11.097 (janeiro/2005). Essa lei dispõe sobre a introdução do biodiesel na matriz energética brasileira. Inicialmente a proporção autorizada é 2% do diesel comum até 2008, 5% até 2013 e já é pensado 20%, sendo que nos Estados Unidos, os automóveis movidos com 100% de biodiesel têm apresentado rendimentos surpreendentes. A política brasileira prevê o incentivo à produção da mamona no Nordeste e no Bioma Caatinga como um todo, do dendê no Norte e Amazônia e da soja no Cerrado, Sul e Sudeste. O maior problema está no fato de serem plantas exóticas, sendo que a macaúba, o buriti (Maurutia fexuosa), o pinhão manso (Jatropha curcas) e o babaçu (Ricinus communis), todas nativas, apresentam grande potencial, só não sendo mais produtivas que o dendê, o qual ainda tem a vantegem de apretesentar baixo custo de produção (custa cerca de um terço do óleo diesel europeu). Todavia, o conhecimento sobre a cultura das nativas ainda é incipiente e a tecnologia para utilização precisa de muitos estudos para ser mais viável economicamente. Ao contrário, as exóticas são mais conhecidas, suas culturas já são dominadas agronomicamente e existem muitos estudos publicados. A mamona, além de ser menos produtiva do que todas essas nativas, possui muitas exigências de solo (irrigação e adubação), o que causa muitas modificações sérias no ambiente, não sendo portanto a mais indicada para a região Nordeste e Caatinga. Seria mais eficiente utilizar o pinhão manso, que é mais adaptado ao semi-árido nordestino. O pequi também poderia ser uma boa opção pela alta produtividade, mas não deve ser viável economicamente já que é uma arbórea de crescimento lento. Substituir
o que resta dos biomas brasileiros por mais monoculturas de plantas
exóticas, existindo altos potenciais nativos, não parece
ser a estratégia mais eficiente para levar o Brasil crescentemente
à independência ao petróleo, à melhor contribuir
para o controle das mudanças climáticas e para a preservação
ambiental. A melhor saída seria estimular sistemas agro-florestais
consorciando nativas e exóticas (a serem substituídas
à medida que os estudos sobre as nativas, e a tecnologia associada,
avancem), arbustos, árvores e palmeiras. Contei com a colaboração fundamental de Buno Filizola e Haroldo Oliveira (MMA) Branca
M. O. Medina - branca@biologo.com.br |